1.
A Mulher Brasileira

 
 
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A população brasileira somou 209,5 milhões de pessoas em 2019, conforme indicam as projeções da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continuada do IBGE (PNADC). Havia nesse ano 108,4 milhões de mulheres e 101,1 milhões de homens, o que representava respectivamente 51,8 e 48,2% da população brasileira. A população feminina brasileira tem características próprias e por vezes distintas das apresentadas pela população masculina. Para traçar um perfil da mulher brasileira, este capítulo do estudo descreve as características da população feminina brasileira.

 
 
 

Distribuição Espacial

 
 
 

As mulheres brasileiras moravam, em sua grande maioria, nas cidades. Do total de 108,4 milhões de mulheres, 94,4 milhões (87%) residiam em áreas urbanas. As áreas rurais do país abrigaram uma população feminina de 14,1 milhões de pessoas, menor que a população masculina, de 15,1 milhões de habitantes.

Gráfico 1.1
Distribuição da população brasileira por gênero, 2019

Fonte: IBGE, 2017. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

Gráfico 1.2
Distribuição da população por situação de domicílio e gênero, 2019

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.


Em 2019, 24,7% das mulheres brasileiras moravam na capital dos estados e no Distrito Federal. Isso equivalia a 26,7 milhões de pessoas. Considerando as moradoras de outros municípios das regiões metropolitanas, chega-se à estimativa de 44,6 milhões de mulheres (41,1% do total) habitando as áreas metropolitanas do Brasil. Os demais 63,8 milhões de mulheres (58,9% do total) moravam nos municípios do interior dos estados.

Segundo as estimativas do IBGE, a Região Sudeste do país abrigava cerca de 46,1 milhões de mulheres em 2019, o que correspondia a 42,5% do total de mulheres no país. Nessa região estavam os estados com as três maiores populações femininas: São Paulo, com 23,9 milhões de mulheres, Minas Gerais, com 10,8 milhões, e Rio de Janeiro, com 9,2 milhões. Considerando apenas as áreas urbanas, a população feminina do Sudeste brasileiro alcançou 43,4 milhões de pessoas, o que equivalia a 46% do total de mulheres no país morando em áreas urbanas. Considerando apenas as áreas rurais, a população feminina do Sudeste brasileiro somou apenas 2,6 milhões de mulheres, apenas 18,8% do total nacional morando em áreas rurais.

A região com a segunda maior população feminina foi o Nordeste, com 29,5 milhões de mulheres, ou 27,2% do total. Nessa região, os pesos das áreas urbana e rural se invertem. As nordestinas morando em áreas urbanas somaram 22,6 milhões de pessoas, o que correspondeu a apenas 23,9% do total de mulheres morando em áreas urbanas no país. As que moravam em áreas rurais alcançaram o contingente de 6,9 milhões de pessoas, o que correspondeu a quase a metade da população rural feminina do país.

As regiões Sul, Norte e Centro-Oeste responderam por respectivamente 14,1, 8,5 e 7,7% da população feminina do país em 2019. O peso das populações femininas urbanas era relativamente maior nas regiões Centro-Oeste e Sul. No Norte, o peso da população feminina urbana era menor em termos relativos.

As participações das mulheres no total das populações dos estados brasileiros flutuaram pouco: o Rio de Janeiro respondeu pela maior participação das mulheres na população (53,5%) e Roraima respondeu pela menor participação (49,9%). Nas áreas rurais, contudo, havia uma variação maior das taxas de participação das mulheres nas populações. Enquanto no Amazonas apenas 43,9% da população rural era composta de mulheres, no estado da Paraíba, o percentual alcançou 50,3% em 2019.

Gráfico 1.3
Local do domicílio, população feminina, 2019

Fonte: IBGE. (*) Exceto capital. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

Mapa 1.1
Distribuição espacial das mulheres, em milhões de pessoas, 2019

Segundo as estimativas do IBGE, a região Sudeste do país abrigava cerca de 44,8 milhões de mulheres em 2016, o que correspondeu a 42,3% do total de mulheres no país. Nessa região estavam os estados com as três maiores populações femininas do país: São Paulo, com 23,3 milhões de mulheres, Minas Gerais, com 10,8 milhões e Rio de Janeiro, com 8,7 milhões. Considerando apenas as áreas urbanas, a população feminina do Sudeste brasileiro alcançou quase 42 milhões de pessoas, o que equivaleu a 45,8% do total de mulheres no país morando em áreas urbanas. Considerando apenas as áreas rurais, a população feminina do Sudeste brasileiro somou apenas 2,8 milhões de mulheres, o que equivaleu a apenas 19,5% do total nacional morando em áreas rurais.

A região com a segunda maior população feminina foi o Nordeste, com 29,4 milhões de mulheres, ou 27,8% do total. Nessa região, os pesos das áreas urbana e rural se invertem. As nordestinas morando em áreas urbanas somaram 22,4 milhões de pessoas, o que correspondeu a apenas 24,4% do total de mulheres morando em áreas urbanas no país. As que moravam em áreas rurais alcançaram um contingente de 7 milhões de pessoas, o que correspondeu a quase a metade da população rural feminina do país.

As regiões Sul, Norte e Centro-Oeste responderam por respectivamente 14,3%, 8,2% e 7,5% da população feminina do país em 2016. Os pesos das populações femininas urbanas eram relativamente maiores nas regiões Centro-Oeste e Sul. No Norte, o peso da população feminina urbana era menor em termos relativos.

As participações das mulheres no total das populações dos estados brasileiros flutuaram pouco: a Paraíba respondeu pela maior participação das mulheres na população (52,8%) e Rondônia respondeu pela menor participação (49,9%). Nas áreas rurais, contudo, havia uma variação maior das taxas de participação das mulheres nas populações. Enquanto no Amazonas, apenas 44,4% da população rural era composta por mulheres, no estado da Paraíba, esse percentual alcançou 50% em 2016.

 
 
 

Distribuição Etária

 
 
 

Dos 108,4 milhões de mulheres brasileiras, 20,2 milhões eram crianças e jovens de até 14 anos de idade, o que correspondeu a 18,7% do total de mulheres em 2019. As mulheres com idade entre 15 e 29 anos responderam por 21,8% da população feminina. A grande concentração ocorreu no grupo de mulheres com idade entre 30 e 59 anos, que somou uma população de 46,1 milhões de pessoas (42,5% do total). As mulheres com mais de 60 anos representaram 17% da população feminina do país em 2019.

É importante notar que a população feminina brasileira se concentrava em faixas etárias mais elevadas que a população masculina. Em 2019, a população masculina excedeu a população feminina até a faixa etária de 20 a 24 anos de idade. A partir dessa faixa, as mulheres passaram a representar mais de 50% da população, chegando a alcançar uma participação superior a 70% em idades superiores a 95 anos.

Gráfico 1.4
Pirâmide etária por gênero, 2019

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

As mulheres brasileiras tinham uma longevidade maior que a dos homens e, por consequência, uma idade média também maior. Em 2019, segundo dados da PNADC, a idade média da população feminina foi de 36,7 anos, ao passo que a da população masculina foi de apenas 34,6 anos. Isso indica que as mulheres tinham, em média, 2,1 anos de idade a mais que os homens brasileiros.

As mulheres que habitavam o meio urbano tinham idade média mais elevada que as moradoras de áreas rurais: 37 anos contra 34,3 anos, em 2019. Na capital dos estados brasileiros, a idade média era ainda maior (38,4 anos). 

Tabela 1.1
Idade média por gênero e área, em anos, 2019

MulheresHomensMédia
Urbano37,034,635,9
Rural34,334,634,5
Média36,734,635,7

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 
 
 

Educação

 
 
 

Segundo os dados da PNADC de 2019, 94,8 milhões declararam que sabiam ler e escrever, o que representou 92,4% dos 102,6 milhões de mulheres respondentes.[1] A despeito disso, ainda era relativamente lento o avanço dessa população na educação. Até 2019, apenas 55,2 milhões de mulheres haviam completado o ensino fundamental, o que equivalia a 58,6% do total de 102,1 milhões de mulheres com 5 anos ou mais de idade no país. A percentagem de mulheres que concluíram o ensino médio era ainda menor (44,4%). A população feminina com ensino superior completo era de 13,6 milhões em 2019, o que correspondeu a 14,5% da população feminina que respondeu à pesquisa.

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1. A PNADC não pede a declaração de saber ler e escrever para crianças com idade inferior à de alfabetização. Por isso, os totais de mulheres e de homens respondentes do questionário sobre educação são menores que as populações totais.

Gráfico 1.5
Grau de instrução por gênero, em (%) da população, 2019

Fonte: IBGE, 2017. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

Na comparação com os homens, as mulheres apresentaram índices educacionais semelhantes. O número de homens analfabetos foi de 7,8 milhões, o mesmo número de mulheres que declararam não saber ler e escrever. O número de homens que completaram o ensino fundamental foi de 55,9 milhões, enquanto entre as mulheres havia 55,2 milhões com esse título. A diferença de educação a favor das mulheres cresceu quando se compararam os números de pessoas que alcançaram o diploma de ensino médio: 40 milhões de homens contra 41,8 milhões de mulheres. O número de mulheres que completou o ensino superior (13,6 milhões) também é maior que o número de homens com esse título (10,9 milhões).

Essa diferença entre gêneros está associada ao perfil das gerações.

 

Essa diferença entre gêneros está associada ao perfil das gerações.

Olhando apenas para a população jovem, de 5 a 19 anos, percebe-se que as percentagens de homens e de mulheres que frequentavam escola em 2019 estavam próximas, sendo ligeiramente superior na população masculina: 66,6% (homens) contra 65,7% (mulheres). Para as pessoas com 60 anos de idade ou mais, as participações dos indivíduos sem o ensino fundamental completo no total das populações de homens e de mulheres estavam bastante próximas. O mesmo ocorreu quando as frequências de homens sem diploma do ensino médio são comparadas com a de mulheres nessa condição.

Portanto, a distinção de escolaridade entre homens e mulheres está concentrada nos grupos etários de 20 a 59 anos, ou seja, na população que nasceu entre 1957 e 1996 e, portanto, já era adulta em 2019. Para a população com idade entre 20 e 29 anos, por exemplo, a frequência relativa de homens sem o ensino médio completo foi de 34,8% em 2019. No mesmo ano, a frequência relativa de mulheres nessa condição era de apenas 25,2%, indicando uma diferença de mais quase 10% entre os dois grupos. Isso indica que as mulheres nascidas entre 1987 e 1996 atingiram níveis educacionais maiores.

Os dados da PNADC apontam que, em 2019, 25,1 milhões de mulheres estavam frequentando algum curso regular. Considerando o total de mulheres em idade escolar (acima de 5 anos), a taxa de matrícula atingiu 26,1%. Isso equivale a dizer que uma em cada quatro mulheres estava estudando na ocasião da pesquisa. Nos homens, a taxa de matrícula foi de 24,4%, quase 2% abaixo do das mulheres.

 
 
 

Raça

 
 
 

Em 2019, cerca de 10 milhões de brasileiras se declararam pretas, o que correspondeu a 9,2% da população feminina. Cerca de 50,1 milhões de brasileiras se declaram pardas (46,3% do total) e 47,2 milhões de mulheres se declaram brancas (43,5% do total). A população feminina autodeclarada amarela alcançou 746 mil pessoas (0,7% do total), e a autodeclarada indígena, 386,7 mil pessoas (0,4% do total).

Gráfico 1.6
Distribuição da população por raça, 2016

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

Gráfico 1.7
Idade média das mulheres, por raça, 2016

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.



É importante observar que as populações masculinas autodeclaradas pretas e pardas são relativamente maiores que as femininas. Em contrapartida, a população autodeclarada branca é menor entre os homens do que entre as mulheres.

 

Gráfico 1.8
Grau de instrução das mulheres, por raça, em % da população, 2019

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.


Outra diferença importante no que diz respeito à raça era a idade média dos grupos populacionais. A idade média das mulheres autodeclaradas pardas (34,6 anos) era significativamente menor que as idades médias das autodeclaradas brancas (38,5 anos) ou pretas (37,8 anos). As mulheres autodeclaradas amarelas tinham a maior idade média entre os grupos: 43 anos de idade. As mulheres indígenas tinham em média 35,8 anos de idade. Algo semelhante ocorreu com a população masculina, para a qual as idades médias entre os autodeclarados pardos (32,9 anos) e entre os autodeclarados indígenas (35,6 anos) eram ainda menores que as dos homens autodeclarados brancos (36 anos) e negros (35,9 anos). 

A escolaridade das mulheres autodeclaradas amarelas e brancas é significativamente maior que a das mulheres autodeclaradas pretas e pardas. Enquanto as taxas de analfabetismo ficam abaixo de 6% nos dois primeiros grupos, na população negra e parda as taxas eram de 8,3 e 8,7% em 2019. Entre as mulheres autodeclaradas indígenas, a taxa de analfabetismo foi 8,5%. Por outro lado, as frequências de mulheres com curso superior completo são expressivamente maiores nos grupos de mulheres autodeclaradas amarelas (32,4%) e brancas (20,7%) do que as dos grupos de autodeclaradas pretas (9,8%) e pardas (9,4%).

 
 
 

Responsabilidades

 
 
 

Em 2019, os dados da PNADC indicam que 34,9 milhões de mulheres eram as pessoas responsáveis do domicílio, ou seja, aquelas que chefiavam o lar. Assim, as mulheres chefiaram 48,2% das moradias no país. A taxa média de chefia, que é a razão entre o número de mulheres responsáveis do domicílio e o total de mulheres, alcançou 32,2% nesse ano. Vale mencionar que a taxa de chefia foi mais elevada entre as mulheres autodeclaradas pretas (39,7%), amarelas (39,7%) e indígenas (37,5%). As mulheres autodeclaradas brancas e pardas registraram taxas de chefia de, respectivamente, 31,4 e 31,2%. 

Aproximadamente 26,9% das mulheres com mais de 15 anos de idade tinham filhos ou enteados menores morando em casa. Essas mulheres totalizaram o contingente de 25,5 milhões de mães que auxiliavam nos cuidados de 40,9 milhões de filhos ou enteados menores. Isso equivalia à média de 1,6 filho ou enteado por mãe. No meio rural, essa média foi ainda maior: 1,81 filho ou enteado por mãe. Acrescentando o contingente de 4,8 milhões de avós que moravam com seus netos ou bisnetos, chega-se ao contingente de 30,4 milhões de mulheres que dividiam seu tempo como estudantes, trabalhadoras, donas de casa ou aposentadas com os cuidados de filhos, enteados, netos e bisnetos.

Gráfico 1.9
Chefes de domicílio por gênero, (%) do total

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

A PNADC de 2019 registrou pela primeira vez a dedicação dos brasileiros a cuidados com pessoas e a trabalhos domésticos e o tempo gasto nessas atividades na população com mais de 5 anos de idade. Os dados indicam que 30,6% das mulheres brasileiras declararam ter se dedicado ao cuidado de pessoas que moravam na mesma casa. Os cuidados envolveram o auxílio em saúde, educação, transporte ou lazer de crianças, idosos, enfermos ou pessoas com necessidades especiais. Além dos moradores, 4,9% das mulheres com 5 anos ou mais de idade declararam ter se dedicado ao cuidado de parentes que moravam em outro lugar. Essas taxas foram significativamente maiores que as de homens com dedicação a cuidados pessoais.

Gráfico 1.10
Taxa de chefia das mulheres, por gênero, 2019

Fonte: IBGE, 2017. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

Houve também uma dedicação elevada a trabalhos domésticos, os quais envolvem atividades de: cozinhar, servir e lavar louça; cuidar da limpeza ou manutenção de roupas e sapatos; fazer pequenos reparos ou manutenção do domicílio, do automóvel, de eletrodomésticos ou outros equipamentos; limpar ou arrumar o domicílio, a garagem, o quintal ou o jardim; cuidar da organização do domicílio (pagar contas, contratar serviços, orientar empregados etc.); fazer compras ou pesquisar preços de bens para o domicílio; e cuidar dos animais domésticos. Segundo a PNADC, 85,9% das mulheres brasileiras com mais de 5 anos de idade declaram ter se dedicado a trabalhos domésticos na própria moradia e 3,6% nas casas de parentes. Na população masculina, essas frequências foram bem menores: de respectivamente 72,3 e 1,2%.

Gráfico 1.11
Frequência de mães* por raça, entre as mulheres pertencentes ao grupo de pobreza

Fonte: IBGE, 2017.(*) com filhos menores de idade. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

Gráfico 1.12
Dedicação a cuidados e trabalhos domésticos, mulheres com e sem filhos, em horas/semana

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

Tabela 1.2
Frequência de pessoas que têm atividades domésticas e de cuidados pessoais, por gênero e local, 2019

OndeTipo de auxílioHomensMulheresMédia
Em casaCuidados pessoais22,3%30,6%26,6%
Em casaServiços domésticos72,3%85,9%79,4%
Na casa de parentesCuidados pessoais2,2%4,9%3,6%
Na casa de parentesServiços domésticos1,2%3,6%2,4%

Fonte: IBGE, 2017. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

Vale ressaltar que o tempo médio dedicado a cuidados pessoais e trabalhos domésticos realizados em casa ou nas moradias de parentes foi maior entre as mulheres do que entre os homens. Em média, as mulheres ocuparam 20,5 horas por semana nessas atividades, enquanto os homens dedicaram apenas 10,6 horas por semana. A maior frequência de mulheres com dedicação a essas atividades e o maior tempo de dedicação resultaram numa distribuição bastante desigual: 71,1% do tempo total dedicado a cuidados pessoais e trabalhos domésticos realizados em casa ou nas moradias de parentes foi de incumbência das mulheres brasileiras, e apenas 28,9% dos homens.

Outro dado revelado pela pesquisa do IBGE foi a sobrecarga maior sobre as mães e avós. Considerando apenas mães com filhos menores de idade, o tempo dedicado a essas atividades alcançou 25,9 horas na semana, em média. As mães mais novas, que tinham filhos em média também mais novos, dedicavam um tempo maior aos cuidados com pessoas e atividades domésticas – no caso de mães com idade entre 15 e 19 anos, o tempo dedicado a cuidados e trabalhos domésticos chegou a 30,6 horas na semana, em média. As mulheres com mais de 14 anos de idade, mas sem filhos menores de idade, por outro lado, dedicaram um tempo menor: 15 horas na semana, em média.

 
 
 

Mercado de trabalho

 
 
 

Além de chefes do domicílio, mães ou avós que destinam horas ao cuidado de membros das famílias, as mulheres tiveram uma elevada dedicação no mercado de trabalho. Segundo os dados da PNADC de 2019, havia 86,9 milhões de brasileiras com mais de 14 anos de idade. Dessas mulheres, 48,2 milhões faziam parte da força de trabalho (53,7% do total). Desse grupo, 85,9%, ou 41,3 milhões de mulheres, estavam ocupadas e 14,1%, ou 6,8 milhões de mulheres, estavam desocupadas. Dos 41,5 milhões de mulheres que estavam fora da força de trabalho, vale observar que havia 5 milhões de pessoas que potencialmente poderiam pertencer à força de trabalho. Isso significa que a força de trabalho feminina tinha o potencial de aumento de 10% sem a necessidade de haver crescimento demográfico.

Tabela 1.3
Pessoas na força de trabalho, por gênero e situação, 2019

HomensMulheresMédia
Na força de trabalhoOcupados53.306.01941.336.30694.642.327
Na força de trabalhoDesocupados5.688.3416.802.25212.490.593
Na força de trabalhoSubtotal58.994.36048.138.560107.132.920
Fora da força de trabalhoCom potencial3.294.8684.983.0968.277.964
Fora da força de trabalhoSem potencial19.122.31736.554.57055.676.887
Fora da força de trabalhoSubtotal22.417.18541.537.66763.954.851
Total81.411.54589.676.227171.087.772

Fonte: IBGE, 2017. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

A situação dos homens no mercado de trabalho era bastante distinta. Dos homens com mais de 14 anos de idade em 2019, 72,5% deles pertenciam à força de trabalho, o que equivalia a 59 milhões de pessoas. Desse grupo, 53,3 milhões de homens estavam ocupados, indicando uma taxa de desocupação de apenas 9,6%, um valor menor, portanto, que o da taxa de desocupação na população feminina (14,1%). O número de homens fora da força de trabalho, mas com potencial de trabalhar, era de 3,3 milhões, valor menor que o das mulheres.

Esses fatos explicam por que as mulheres representavam apenas 44,9% da força de trabalho total do país e 43,7% das pessoas ocupadas (homens e mulheres). Também justifica por que havia a tendência de aumento de participação das mulheres na força de trabalho brasileira: 60,2% da força de trabalho que poderia passar a integrar a mão de obra em curto espaço de tempo era do sexo feminino.

Do ponto de vista regional, vale observar que no Centro-Oeste, no Sul e no Sudeste do país, as parcelas das mulheres que pertenciam à força de trabalho ficou em torno de 57% das populações femininas de cada região. Nas regiões Nordeste e Norte, essas participações eram menores: 45,6 e 49,5% das mulheres, respectivamente. Algo semelhante ocorreu quando se observa a taxa de ocupação, que foi maior nas mulheres das regiões Sul (90,6%), Centro-Oeste (87,4%) e Sudeste (85,4%).

Das mulheres ocupadas na economia brasileira em 2019, 42,7% (17,6 milhões) eram empregadas em empresas do setor privado, 20,8% (8,6 milhões) eram trabalhadoras por conta própria e 16,3% (6,7 milhões) eram funcionárias no serviço público (incluindo as atividades na administração, na saúde e na educação). Havia apenas 1,3 milhão de mulheres empresárias ou empreendedoras (3,2% do total de mulheres na força de trabalho), o que representou apenas 30,6% de todos os empregadores no país (homens ou mulheres). 

Mapa 1.2
Distribuição regional das mulheres ocupadas, em milhões de pessoas,2019

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

Vale mencionar as participações elevadas de trabalhadoras domésticas e trabalhadoras auxiliares da família na força de trabalho feminina. Em 2019, 5,7 milhões de mulheres exerciam trabalhos domésticos (13,8% do total de mulheres ocupadas) e 1,3 milhão de mulheres exercia atividades auxiliares da família (3,1% do total de mulheres ocupadas). Essas participações na força de trabalho masculina foram significativamente menores, de 0,9 e 1,5%, respectivamente.

Considerando a distribuição das mulheres ocupadas por setor econômico, nota-se uma forte concentração nas atividades de serviços privados (26,7%), educacionais e de cuidados com a saúde (20,8%), comerciais (18,8%) e industriais (10,1%). No total das ocupações nesses setores (de homens e de mulheres), as participações das mulheres eram relativamente elevadas: serviços privados (42%), educação e saúde (75,8%), comerciais (43,3%) e industriais (34%). Nos serviços domésticos, a participação das mulheres no total da força de trabalho ocupada foi de 92% em 2019.

Conforme apontam os dados da PNADC de 2019, a maior parte das mulheres trabalhou com uma jornada entre 40 e 44 horas na semana. Houve também uma parcela elevada (29,1% do total de mulheres) que trabalhou em jornadas menores, de 15 a 39 horas na semana. Na média, as mulheres acabaram tendo uma jornada média de trabalho em atividades laborais menores em relação à dos homens, o que, em parte, se deveu à maior dedicação a atividades domésticas e a cuidados com pessoas.

Em 2019, a remuneração média do trabalho das mulheres foi de R$ 2.076,77. As mulheres com jornada de mais de 49 horas na semana alcançaram uma remuneração maior, de R$ 3.385,40. Em termos setoriais, a maior remuneração média foi obtida nas empresas da construção (R$ 3.089,46), onde há uma pequena quantidade de mulheres empregadas, mas com maior predominância de cargos com nível técnico elevado (engenharia e arquitetura). No serviço público, segmento em que é elevada a participação de mulheres na força de trabalho, a remuneração das mulheres foi de R$ 4.397,77, e nas atividades de educação e saúde, de R$ 2.955,79.

Vale observar que, para praticamente todos os segmentos de atividade e jornadas de trabalho, as mulheres receberam valores inferiores aos dos trabalhadores do sexo masculino. Em média, a diferença foi de 20,8% a menos para as mulheres, sugerindo a ocorrência de forte desigualdade de gênero no mercado de trabalho. Esse ponto será analisado em maior detalhe no Capítulo 4 do relatório.

Gráfico 1.13
Distribuição das mulheres ocupadas por situação de ocupação, 2019

Fonte: IBGE, 2017. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

Gráfico 1.14
Distribuição das mulheres ocupadas por setor de atividade econômica, 2019

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

Gráfico 1.15
Distribuição das pessoas ocupadas por jornada de trabalho semanal, homens e mulheres, 2019

Fonte: IBGE, 2017. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

Gráfico 1.16
Distribuição por raça autodeclarada das mulheres abaixo da linha de pobreza, 2019

 
 
 

Pobreza

 
 
 

A desigualdade de gênero se soma a outras características do país na formação de uma sociedade com elevados níveis de pobreza. Para estimar o número e o perfil das mulheres pobres, adotou-se o critério de classe social relativo, que é empregado em boa parte da literatura sobre o tema e norteia as políticas sociais em uma parcela considerável de países. Esse critério estabelece classes com base na renda per capita das moradias. São consideradas cinco classes econômicas, cada uma abrigando 20% das famílias brasileiras. Na primeira classe estão as famílias e pessoas mais pobres, que, no caso do Brasil, tinham uma renda domiciliar per capita inferior a R$ 360 por mês em 2019. Isso equivalia à renda de R$ 11,84 por pessoa por dia.[1]

Com base nesse critério, estima-se que havia 21,752 milhões de mulheres e 20,264 milhões de homens abaixo da pobreza, totalizando 42,016 milhões de pobres em 2019. Isso significa que a participação das mulheres entre os pobres brasileiros era maior que a dos homens: 51,8 e 48,2%, respectivamente. Quase 60% da população feminina na pobreza tinha idade inferior a 29 anos, indicando uma incidência maior entre as jovens brasileiras. De fato, cerca de 34% de todas as mulheres com menos de 14 anos de idade e 30% das mulheres com idade entre 15 e 19 anos pertenciam a famílias na pobreza.

A incidência de mulheres na pobreza é particularmente elevada nas populações de mulheres autodeclaradas pretas, pardas e indígenas. Nesses grupos, estavam quase 3/4 das brasileiras em estado de pobreza: 16,216 milhões, do total de 21,752 milhões de mulheres (74,5%). Entre as mulheres pretas, pardas e indígenas em estado de pobreza, a maior parcela (43,1%) era de jovens com menos de 30 anos. A incidência de pobreza nas faixas etárias mais jovens confirma essa tendência: 36,4% das jovens pretas, 42% das jovens pardas e 48,5% das jovens indígenas moravam em domicílios abaixo da linha de pobreza em 2019.

Com base nesse critério, estima-se que havia 21,325 milhões de mulheres e 20,028 milhões de homens abaixo da pobreza, totalizando 40,353 milhões de pobres em 2016. Isso significa que a participação das mulheres nos pobres brasileiros era maior que a dos homens: 51,6% contra 48,4%, respectivamente. Quase 60% da população feminina na pobreza tinha idade inferior a 29 anos, indicando uma incidência maior entre as jovens brasileiras. De fato, cerca de 34% de todas as mulheres com menos de 14 anos de idade e 30% das mulheres com idade entre 15 e 19 anos pertenciam a famílias na pobreza.

Gráfico 1.16
Distribuição por raça autodeclarada das mulheres abaixo da linha de pobreza, 2016

Fonte: IBGE, 2017. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

A incidência de mulheres na pobreza é particularmente elevada nas populações de mulheres autodeclaradas pretas, pardas e indígenas. Nesses grupos, estavam quase ¾ das brasileiras em estado de pobreza: 15,766 milhões de um total de 21,325 milhões de mulheres (73,9%). Entre as mulheres pretas, pardas e indígenas em estado de pobreza, a maior parcela (44,3%) era de jovens com menos de 30 anos. A incidência de pobreza nas faixas etárias mais jovens confirma essa tendência: 36,4% das jovens pretas, 42,0% das jovens pardas e 48,5% das jovens indígenas moravam em domicílios abaixo da linha de pobreza em 2016.

Mapa 1.3
Número de mulheres abaixo da linha de pobreza, em milhões de pessoas, 2019

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

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2. Esse valor mensal foi superior ao da linha de pobreza extrema sugerido pelo Banco Mundial, que era de R$ 223,87 por pessoa, mas ligeiramente inferior ao da linha de pobreza ampliada, também sugerido pelo Banco Mundial, que era de R$ 384,77 por pessoa, em 2019.